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Sumário

15 de março de 1948 – 19 de agosto de 2003

Sergio Vieira de Mello nasceu em 15 de março de 1948 no Rio de Janeiro (Brasil). Filho de um diplomata e historiador, viveu no exterior desde criança. Passou uma parte da infância em Beirute (Líbano) e depois na Itália onde freqüentou o liceu francês Chateaubriand de Roma. De volta ao Brasil, terminou seus estudos secundários no Lycée Franco-Brésilien e obteve o “baccalauréat” em letras clássicas com menção honrosa. Querendo estar perto de seu pai, então Cônsul-Geral do Brasil em Nápoles, Sergio, em 1966, viaja para a Suíça, onde começa a estudar filosofia na Universidade de Friburgo. Mais tarde continua seus estudos na França, em Paris, onde se forma em 1969 e, em 1970 obtém um mestrado em filosofia na Universidade de Sorbonne.

Em novembro de 1969, Sergio é aceito no Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), com sede em Genebra. Sadruddin Aga Khan é, então, o Alto Comissário. Admitido como redator em francês, entre outras tarefas, tem a de verificar que os documentos oficiais estejam redigidos corretamente nos diversos idiomas da Organização. Trabalhando no ACNUR, continua seus estudos de filosofia e, em 1974, obtém seu doutorado (“doctorat troisième cycle”), com louvor, também na Sorbonne. Seus estudos universitários são coroados com sucesso em 1985, quando obtém o “Doctorat d’Etat” defendendo sua tese “Civitas Maxima” com menção honrosa.

Em 1971, o ACNUR realiza uma operação de repatriação sem precedentes. Logo após a guerra civil que devastou a província paquistanesa de Bengali Oriental, cerca de 10 milhões de pessoas se refugiam na Índia. A partir da proclamação da independência de Bangladesh, em dezembro de 1971, os refugiados voltam a seu país. Sergio Vieira de Mello, então com 23 anos, é enviado a Dacca em setembro de 1971 para preparar a repatriação e garantir a reintegração dessa imensa multidão. Trabalha em Bangladesh até fevereiro de 1972. Durante esses cinco meses, de sua primeira experiência de trabalho de campo, Sergio assiste à criação de um novo estado : o Bangladesh.

Em fevereiro de 1972, depois de muitos anos de guerra, é assinado um acordo de paz em Adis Abeba entre as autoridades de Cartum e os rebeldes do sul do Sudão. Como conseqüência desse acordo, centenas de milhares de pessoas do sul do Sudão, refugiadas nos países limítrofes, desejam voltar para seu país. De novo o ACNUR, deve garantir sua repatriação. A partir do verão de 1972, Sergio é o encarregado desta nova missão do ACNUR. Ele participa do projeto e da construção de uma ponte sobre o Nilo em Juba. Só tem 24 anos. De volta do Sudão, casa-se com Annie na França em 1973.

No ano seguinte, Sergio será enviado a Chipre; antes, para Nicósia do Sul e, em seguida, como representante do ACNUR a Nicósia do Norte – de novembro de 1974 a abril de 1975.

A Revolução dos Cravos em Portugal, em abril de 1974, determina a queda da ditadura de Salazar e a independência das últimas colônias portuguesas: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe. Em 25 de junho de 1975, Moçambique se torna independente; Sergio viaja com sua mulher para cuidar, novamente, da repatriação e reintegração dos refugiados moçambicanos. Permanecerá em Maputo até novembro de 1977. Com 28 anos, será um dos mais jovens representantes do ACNUR em operação de campo.

No início de 1978, é nomeado Representante Regional do ACNUR para a América Latina. Sergio só tem 30 anos. Viaja com a família para Lima (Peru). Seu primeiro filho Laurent nasce em meados de 1978. Passam dois anos no Peru, onde Sergio trabalha, essencialmente, para assentar em países de asilo definitivo refugiados latino-americanos fugitivos do regime de Pinochet.

Em janeiro de 1980, volta a Genebra (Suíça), para o Departamento de Pessoal do ACNUR, onde é responsável pela formação dos funcionários. Seu segundo filho, Adrien, nasce em meados de 1980.

Em novembro de 1981, após 20 meses em Genebra, Sergio Vieira de Mello é nomeado Conselheiro político da FINUL (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), em Naqoura, no sul do Líbano. Nesta primeira experiência de manutenção da paz, Sergio pode avaliar a complexidade dessas operações que, em sua maioria, esbarram em muitas dificuldades para manter a paz pela escassa cooperação de todos os beligerantes. Vezes demais, estas operações limitam-se a uma ação humanitária e a experiência da FINUL não foi nenhuma exceção.

Em julho de 1983, Sergio volta para Genebra onde reassume sua função noDepartamento de Pessoal do ACNUR. Trabalha muitos anos na sede e exerce diversas funções. Idealiza também vários projetos e planos (CPA, CEI,…) que vão modificar a política da Instituição. Durante esses 10 anos, é transferido para Buenos Aires, onde só trabalha alguns meses, pois o novo Alto Comissário o chama de volta para Genebra. Sergio aproveita esse período de estabilidade em Genebra para terminar sua tese de Doutorado, que defende brilhantemente na Sorbonne, em Paris, em dezembro de 1985.

Durante esses anos na sede do ACNUR em Genebra, ele foi, sucessivamente, Chefe de Gabinete do Alto Comissário e Chefe do Secretariado da Comissão Executiva. Em maio de 1988, é nomeado Diretor da Divisão para a Ásia. É o criador e incentivador do “Plano de Ação Global” (mais conhecido como CPA) que vai por fim ao drama dos “boat people” vietnamitas. De fato, 10 anos após o fim da guerra do Vietnam, os “boat people” vietnamitas continuavam a deixar seu país, enfrentando riscos incalculáveis para atravessar o Mar da China. Se, por um lado, sabemos o número de “boat people” que alcançou os países de primeiro asilo no Sudeste da Ásia durante essa década, por outro, é difícil saber com precisão quantos deixaram o Vietnam. Era preciso por fim a essa tragédia. Sergio, incentivador do CPA, decidiu reunir, em volta da mesma mesa de negociações, todos os protagonistas, inclusive as autoridades de Hanói. Este plano permitiu organizar uma operação de repatriação individual para o Vietnam com um sistema de vigilância garantido pelo ACNUR até o fim dos anos 90. Durante esse período de estabilidade em Genebra, Sergio também ocupa o cargo deDiretor de Relações Exteriores do ACNUR de abril de 1990 a dezembro de 1991.

Em fins de 1991, a nova Alta Comissária para Refugiados, Sra. Sadako Ogata, nomeia Sergio seu Enviado Especial ao Camboja. No âmbito dos acordos de Paris para o Camboja, assinados em outubro de 1991, é criada uma autoridade provisória das Nações Unidas para o Camboja (APRONUC) e Sergio se torna o Chefe do Setor de Repatriação. Esta operação será considerada um sucesso para as Nações Unidas posto que, em junho de 1993, cerca de 370.000 cambojanos tinham voltado para seu país.

Sergio volta a Genebra, no verão de 1993 e viaja novamente, no outono, para uma nova operação de manutenção da paz, nos Bálcãns. De outubro de 1993 a abril de 1994, será Diretor político da FORPRONU em Sarajevo, na Bósnia. Mais tarde, em abril de 1994, viaja para Zagreb como Chefe de Assuntos Civis da FORPRONU.

Após esta experiência nos Bálcãns, Sergio, novamente em Genebra, será nomeado pela Sra. Ogata Diretor de Operações e Planejamento (1994-1996). Uma das tarefas principais que ele vai realizar neste posto, entre junho de 1995 e setembro de 1996, será a organização da Conferência sobre os Refugiados e as Migrações na Comunidade dos Estados Independentes (CEI). A conferência levará à elaboração de um Plano de Ação para regulamentar os fluxos migratórios decorrentes da fragmentação das antigas repúblicas soviéticas. Em janeiro de 1996, Sergio é nomeado Assessor do Alto Comissário com o título de Subsecretário Geral das Nações Unidas.

É novamente enviado do ACNUR para trabalhar junto às Nações Unidas, em novembro de 1996, para exercer as funções de Coordenador Humanitário das Nações Unidas para a região dos Grandes Lagos na África. No início de 1997, volta para Genebra por um ano no seu posto de Assessor do Alto Comissário.

Em primeiro de janeiro de 1998, quando o Sr. Kofi Annan completa um ano como Secretário Geral, Sergio é novamente enviado do ACNUR junto às Nações Unidas em Nova York, onde é nomeado Secretário Geral Adjunto do Departamento de Ações Humanitárias, OCHA (Escritório de Coordenação de Ações Humanitárias). No âmbito de suas funções, Sergio cumprirá, a pedido do Secretário Geral, uma missão de avaliação em Kosovo, em maio de 1999. Na volta, faz um relatório ao Conselho de Segurança e, em 11 de junho de 1999, é nomeado pelo Secretário Geral, seuRepresentante Especial Provisório, responsável pela Administração Interina das Nações Unidas em Kosovo (MINUK). Voltando a Nova York em julho de 1999, reassume suas funções no OCHA.

No início de setembro de 1999, a situação piora rapidamente no Timor Leste após a divulgação dos resultados do referendum organizado pelas Nações Unidas, favoráveis à independência desta ex-colônia portuguesa anexada pela Indonésia em 1976. Em 15 de setembro, por decisão do Conselho de Segurança, é criada e enviada para o local uma Força Internacional de Intervenção (INTERFET). Em 25 de outubro do mesmo ano, uma nova resolução do Conselho de Segurança cria a Autoridade Provisória das Nações Unidas no Timor Leste (UNTAET). Esta administração transitória dispõe de poderes legislativos e executivos (incluindo a Justiça e a Administração do Território). Sergio Vieira de Mello é nomeado Administrador do UNTAET. Chega a Dili em novembro de 1999 e governa o Timor Leste até abril de 2002, data em que Xanana Gusmão é eleito Presidente. O Timor Leste é criado em 20 de maio de 2002 e se torna o 192º país das Nações Unidas.

Em setembro de 2002, desejando voltar para a Suíça e para perto de sua família, Sergio é nomeado Alto Comissário de Direitos Humanos com sede em Genebra. Permanecerá neste posto até o final de maio de 2003, quando o Sr. Kofi Annan lhe pede que seja seu Representante Especial em Bagdá por um período de 4 meses. Chega ao Iraque em 2 de junho de 2003. No dia 22 de julho, refere ao Conselho de Segurança sobre a situação no Iraque e as condições extremamente difíceis nas quais as Nações Unidas têm que trabalhar. As forças da coalizão tinham entrado no Iraque no dia 19 de março de 2003.

Cinco meses depois, no dia 19 de agosto de 2003, Sergio Vieira de Mello e 21 de seus colegas são mortos em Bagdá, no atentado mais sangrento sofrido pela Organização das Nações Unidas.
O mundo estava atônito. O profundo sentimento de perda que se seguiu ao desaparecimento de Sergio gerou uma onda de dor e desespero sem precedentes. É difícil expressar o sentimento mais apropriado para descrever o vazio experimentado no mundo inteiro devido a sua perda prematura. Mas um testemunho sobressai por sua simplicidade e porque vinha do coração.

Kamel Morjane, ex Alto Comissário Adjunto do ACNUR e amigo do Sergio : “No ACNUR, onde ele passou 25 anos de sua vida, era o filho brilhante que seus antecessores gostariam de ter tido. Para seus coetâneos, como eu, era o colega ou o amigo, muitas vezes os dois ao mesmo tempo, que tentávamos imitar e ter como exemplo, mas que ninguém conseguiu igualar”.

Em sua longa carreira, Sergio foi apoiado, incentivado e protegido discretamente por sua mulher Annie enquanto os dois viam, com orgulho, seus filhos Laurent e Adrien crescerem e se tornarem jovens sadios. Do ponto de vista família, o marido e pai querido continuará a fazer muita falta.

Depois de um velório no Rio de Janeiro, sua cidade natal e em Genebra, uma cidade que se tornou sua segunda casa e cujos cidadãos se tinham aglomerado nas ruas para prestar-lhe uma última homenagem, Sergio foi levado ao Cemitério dos Reis onde desde então descansa em paz.